Estamos todos impacientes. O mundo está impaciente. Estamos acelerados, queremos encontrar o sucesso rápido, com o menor esforço possível e de preferência ainda uma maneira de nos manter por lá ad aeternum.
A massificação da internet e os demais meios de comunicação têm sido impulsionadores destacados para essa histeria generalizada. Queremos aprender rápido, criar um negócio rápido, ficar rico rápido e assim por diante. E sermos felizes logo. Entramos num looping de pressão psicológica insana. De crianças a idosos, ninguém está imune.
Mais do que isso, busca-se pelo milagre: o caminho a ser seguido para que esses desejos se realizem sem muito esforço. Queremos que nos ensinem o atalho, quando a maioria de nós já sabe qual a estrada que deveríamos seguir. Deixamos nos guiar pelas exceções dos modelos fáceis.
Nessa toada, basta uma pequena ‘passeada’ pelas redes sociais e encontraremos gurus de todo o tipo prometendo os milagres que os desavisados buscam. Exceto alguns diferenciados, muitos sem a necessária experiência ou no máximo algum sucesso raso, tentam nos dizer como ter sucesso dinâmico, quando eles próprios muitas vezes ainda engatinham nas suas realizações.
A questão adicional é que de tanto ver proliferar os promotores da felicidade alheia e a mágica da competência fácil, centrados no marketing amplo e agressivo, cada vez menos pessoas se dão conta de que o afinco, a dedicação e a consistência, dentre muitas outras, são na verdade os componentes do caminho.
Eu sei que está tudo acelerado e não imagino que temos todo o tempo do mundo, mas precisamos colocar a bola no chão. Não podemos esquecer que a felicidade é produtiva. Que pessoas felizes geram mais e melhores resultados, além de engajarem melhor as pessoas que trabalham com elas.
Algo que normalmente não se realiza no curto prazo e exatamente por essa razão torna-se importante analisar com simplicidade, mas cuidado, como isso ocorre na prática transparente do dia-a-dia, e não naquela realidade maquiada de facilidade do marketing.
Se desmontarmos o caminho para os nossos objetivos, como uma engenharia reversa ou um processo reverso veremos que são pequenas ações diárias que nos garantem chegar lá, mas que na prática, rigorosamente não trazem resultado visível a cada passo. O que, para o ansioso e mau observador, é uma decepção.
Explico melhor: se eu pretendo aprender uma habilidade ou competência nova, desejo uma mudança na minha forma de trabalhar, emagrecer ou algo semelhante, posso facilmente retroceder passo a passo e encontrando as ações diárias que preciso executar para alcançar esse objetivo.
Ocorre que, se eu começar um regime, por exemplo, no primeiro dia eu não vou perceber absolutamente nada de diferente na minha forma. Logo, ‘aparentemente’ aquela ação do dia foi totalmente inútil. Assim como o segundo dia, o terceiro e mais alguns outros.
Apenas alcançamos os nossos objetivos somando nossas pequenas ações diárias sem interrupção, porque cada uma daquelas ações isoladamente não traz qualquer diferença perceptível e é exatamente isso que nos faz desistir muitas vezes dos nossos objetivos. Principalmente os grandes que mudariam nossa vida. Qualquer um de nós já fez isso e normalmente se arrepende.
Por isso, estar ciente dessa realidade simples, talvez nos permita colocar a régua dos desejos em níveis intermediários e conscientes, permitindo passos firmes e realizáveis a cada dia, sem esperar resultados imediatos e grandiosos que não sejam o de ‘não parar’. Provavelmente isso nos faça entender o todo e nos motive a continuar.
Por isso corroboro com a ideia de que o nosso sucesso é feito da soma de pequenas ações inúteis que realizamos diariamente sem interrupções.
Nesse sentido, podemos entrar na discussão sobre as diferenças entre hábito e rotina, de como nosso cérebro gasta ou prefere gastar sua energia, porque ele prefere o hábito e de como podemos mudar isso conscientemente. Mas isso é assunto para outro texto.